Durante séculos os segredos a respeito da transformação espiritual e evolutiva do eu foram mantidos em sociedades secretas porque a atmosfera social era demasiadamente hostil à divulgação desses segredos, comparando ao que atualmente conhecemos como esfera pública de disseminação do conhecimento. O recurso de transmissão desses segredos não foi outro senão o de uma linguagem cifrada. As tradições de diversas Escolas de Mistérios perpassaram gerações de iniciados que dominavam a verdadeira interpretação dos símbolos e imagens usados em narrativas, sagas, romances e outros tipos de literatura. O recurso de uma linguagem codificada era para escapar ao uso e o abuso de um poder hegemônico no campo da espiritualidade, que não era amistoso a qualquer corrente representante da diversidade humana em seus modos de vínculo com o mundo espiritual.
Na imagem das bodas, do casamento, a mensagem da conciliação e do vínculo humano com a dimensão suprassensível ganha vida. Rudolf Steiner escreveu este livro nos anos finais da Primeira Guerra, quando sua atividade social era mais restrita devido às ameaças de um grande conflito bélico. Provavelmente, o tempo que não era absorvido pelas atividades externas foi muito bem aproveitado para meditações e mergulhos em processos profundos de investigação a respeito do enigma humano. A intenção de Steiner foi revisar uma obra da corrente RosaCruz e elucidar o caminho das Bodas Alquímicas como um livro de iniciação. Toda e qualquer iniciação no mundo espiritual é permeada por provas e perigos. O grande desafio é o discernimento entre o que é verdadeiro e o que é falso, afinal, como portal de entrada as vivências suprassensíveis se revelam como imagens.
Steiner analisa a jornada de quem peregrina em busca da verdade espiritual, identificando na obra de Johann Valentin Andreae a fidedigna expressão dos segredos iniciáticos. A proposta foi de tornar público conhecimentos que não devem mais circular entre poucas pessoas, o ditame de que “muitos são chamados, mas poucos são escolhidos” está ultrapassado, tornou-se anacrônico. O nosso tempo é regido por outro princípio: “muitos são chamados, mas cada um faz sua escolha”. O problema não é mais o tipo de conhecimento que se tornou público e acessível, mas que tipo de escolha cada eu faz em seu caminho existencial. A linguagem cifrada das Bodas Alquímicas de Christian RosaCruz foi traduzida por Steiner em uma linguagem fomentadora da evolução do eu, condizente com as condições contemporâneas de compreensão do ser humano.
Jonas Bach
